domingo, 8 de novembro de 2009

O Segredo

Passou-se muito tempo até que ele finalmente descobriu. Já era tempo de saber, depois de tanta procura. Ele já sabia o que fazer; sua dívida não tinha sido paga. Ainda. Ele abriu os olhos e a fitou.

– Descobri – disse ele.
– O quê? – perguntou ela, confusa, ainda passando a mão sobre os olhos castanhos.
– O segredo dos problemas, de todas as coisas. Como resolver tudo. Eu descobri – disse, abrindo o peito de orgulho.
– É sério? – perguntou ela, sem saber ao certo o que falar.
– É verdade. Não pensei que um dia iria conseguir. Não é ótimo? Eu disse que ia descobrir, não foi?
– É... – disse ela com uma expressão estranha, sem convencer.
– Hm... – disse ele, sem entender – Então, vai querer saber ou não?

– Não sei. Como você se sente sabendo o segredo de tudo? Você deve se sentir único.
– Eu me sinto... – ele não soube responder. Olhou pra um ponto invisível, tentando pensar.
– Como? – ela se mexeu um pouco. Sentou-se, mostrando a curiosidade que a incomodou.
– Eu não sei – falou ele, sem se entender – Que estranho.
Uma brisa passou, balançando os cabelos e trazendo um silêncio incômodo.
– É por isso que eu não quero saber – disse ela, finalmente. E se deitou de novo.
– Como assim? – teimou ele, deitando-se ao lado dela.
– Bem – disse ela virando o rosto para perto do ouvido dele – você sabe de tudo, mas não sabe como se sente agora. Eu ao menos não sei de tudo, mas o que eu sinto é bem claro e eu me sinto bem. É tudo colorido pra mim, todos os defeitos que me afligem também me completam. Se não fossem esses probleminhas, o que eu aprendi ser e cada pedaço de mim seria diferente.

O silêncio e o vento vieram até os dois fecharem os olhos de novo. Ele os fechou, teimando em descobrir, tentando entender como, com tudo, poderia não ter nada. Ela fechou os olhos, sorrindo, entendendo que, mesmo com nada, tinha tudo.

Artur Friedrich

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