quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Estes Meus Cantos

"O que são na verdade estes meus cantos?[...]

Como as espumas, que nascem do mar e do céu, da vaga e do vento, eles são filhos da musa - este sopro do alto; do coração - este pélado da alma. E como as espumas são, às vezes, a flora sombria da tempestade, eles por vezes rebentaram ao estalar fatídico do látego da desgraça[...]"

Castro Alves, Espumas Flutuantes

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Balão Vermelho


Um modesto parque de diversões assistiu ao espetáculo da vida, sendo ele do jeito que for. O sol brilhava com um leve egocentrismo e os pássaros se deliciavam nas pequenas fontes d’água. Os trilhos da montanha-russa rugiam como deveria ser; os carrinhos bate-bate davam prazer ao mais sádico dos motoristas. As crianças corriam de um lado ao outro, levando junto seus pais e a paciência que lhes restava. Era um calor suportável, até certo ponto; insuportável, até outro. As árvores dançavam com o vento que as acariciavam suavemente. Eu não sabia exatamente o que fazer, então fiquei somente observando aquele espetáculo mundano do nada. Minha falta de maturidade ainda faz-me achar graça na rotina mais tediosa, no parque de diversões mais tedioso. Mesmo que alguns gritos, talvez de prazer, talvez de pânico, tirassem parte de minha atenção, continuei com um sorriso bobo no rosto, vendo aquelas crianças clamando por pipoca e algodão-doce. Mas, estranhamente e de repente, tudo se silenciou e ficou em câmera lenta. A pipoca parou de transbordar da enferrujada panela, o algodão-doce perdeu seu açúcar, os carros bate-bate perderam sua inofensiva agressividade e a montanha-russa se emudeceu. Lindamente devagar, aproximou-se aquela que eu esperava. Ela usava roupas simples que a tornavam ainda mais perfeita; cabelo preso, em decorrência do calor. Usava tênis desbotados, sendo que um estava desamarrado. Detalhes de desleixo, mas que não faziam nem mal e talvez bem. As coisas desarrumadas podem ser um tanto agradáveis. Andava um pouco perdida, à minha procura. Se é que me achar é por um fim à sua perda. De qualquer jeito, mostrou-me o sorriso que eu estava esperando ver, quando me viu. Eu o retribui. Ela trazia um simpático balão vermelho, no qual fez questão de desenhar um sorriso. Não entendi o porquê do sorriso na flutuante bola que teimava em subir aos céus.
– Por que o sorriso no balão? – perguntei, mostrando em meu semblante que achava-a totalmente boba.
– Tentei adivinhar a cara que você faria quando me visse. Desenhei o melhor dos sorrisos – disse ela, como se vencendo a batalha – E acertei.



artur schütte