segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ignorância

Desista de esconder-se atrás desses olhos cor de céu. Pare de cegar-se por detrás dessa inocência! Somos criadores dos próprios pecados. Essa inocência há muito passou; nostalgias bem alimentadas não são mais que nostalgia. Saia desse buraco! Arranque sua verdade! Porque os pecados estão passeando pra quem consegue vê-los. Saboreie dolorosamente essa facada de desapontamento. Mas não merece meus perdões. O sangue azedo que te escorre é coberto de pudor. A descoberta final não será dos que outrora seriam inocentes e hoje são ignorantes.

Artur Schütte

JULES

Eu, cada caso, eu agora amando. Animado. Queria de qualquer maneira: “Ali está, a minha mulher. É ela!” Mas ela, nada. Ah, era casada. Detalhe que torna a guerra fria. Demorou! Eu, já sem esperanças, me dediquei ao jornal, até comecei a sair com umas maçãs bizarras, quando ela chegou de surpresa com uma mala:

“Me separei, vim morar com você!”

Eu agora deslumbrado. Amar. Meus poucos amigos repararam:

“Como você está magro, mais jovem, a pele...”

Compramos livros, lemos poesias em voz altas, discutimos uvas. Trepamos na cozinha, no banho, na varanda. Como ela é sensual, gostosa, que boca, corro pro corpo, corro sempre quando chego. Íamos a todos os filmes e peças. Mas começaram aqueles telefonemas anônimos pro celular dela e umas sumidas. E quando eu ligava e ela não atendia? Depois ainda dava aquela desculpa:

“Deixei no silencioso”

Comecei a ter um ciúme como nunca tinha sentido. E quando ela começou a me tratar mal na frente de todos, rir dos meus lapsos, no bar, local público e privado?

Um dia, achei uma caixinha de camisinhas no carro dela. Ela disse o quê?

“Deve ser do meu irmão, eu emprestei o carro pra ele à tarde.”

Tá? A garota provocava fora que gostava de mostrar que era assediada. E era. Merda! A vida é uma merda! Por que não pode dar certo? Num jantar com meu editor ela não apareceu. Chegou tarde em casa. Disse que tinha passado mal no trabalho. Dei um basta:

“O que está acontecendo?”

Brigamos. Ela saiu e nunca mais voltou. Na nossa primeira e única briga. Liguei, liguei, ela não atendeu. Depois, mandou eu fazer umas malas com as suas coisas. Mandou o irmão vir pegar. E então o verdadeiro pesadelo começou.

“Vem garota, volta pra casa, nossa casa.”

Ela, nada. Um dia, ligou, que tinha sido assaltada. Caiu a ligação. Liguei desesperado, procurei- a em delegacias. Nada. Até um amigo encontrá-la na mesma noite, numa festa, dançando com o antigo marido, feliz, felicidade, com aquele ex. Nunca falamos nisso. Fingi que não sabia.

Nos vimos depois, trepamos, ela dizia que ainda me amava. Mas sumia. Estava com ele, óbvio.
Mas nunca assumia. Passávamos uma noite de amor e ela ia embora. Porque ia pra ele. Começou o jogo. Eu tentava, em casa e-mail, decifrar cada frase, cada palavra, até pontuação, pra ver o que estava acontecendo, se íamos voltar. E horas decidindo a resposta, cada linha, cada palavra, para fazê-la se apaixonar por mim novamente. Dava certo. Saíamos. Ela sugeria o restaurante mais charmoso. Era aquele lance maravilhoso. Trepávamos depois. E sumia de novo. Adoeci. Caco. Ela confessou, estava com ele, morando com ele, voltara pra ele, que estava uma merda, eles só brigavam, que detestava a mania dele de ficar em casa o dia inteiro, mas estava morando com ele.

“Vamos voltar, garota.”

Ela dizia que estava pensando seriamente, mas sumia. Então, inverti. Passei a sumir, a fingir que saía com outras. Daí, pirou, veio atrás, me ligava, deixava recados assim:

“Saudades, quero te ver agora.”

Uma vez, me ligou bêbada de uma festa às três horas da manhã. Disse:

“Está tocando a nossa música, estou morrendo de saudades.”

“Vem pra cá já!”

“Não posso!”

E desligou. Devia estar com ele.

“E aí, garota, o que você quer?”

Ela disse que gostava dos dois, se era possível isso, gostar de dois. Ela queria tudo. Fiquei mais doente. Ia a médicos, eles não sabia o que eu tinha. Eu sabia. Minha doença era tristeza. Eu sabia, não adianta mais viver, ela é a mulher, pra que seguir adiante?

Hoje. Quando acordo, penso que ela está encolhidinha, dormindo ao meu lado. Quando saio de carro, finjo que ela está ao meu lado e ligo o rádio e canto pra ela. Você já amou alguém assim? Ofereci tudo. Tínhamos planos: o tal futuro. Mas ele apareceu. O que ele tem? Ela o ama, mais do que tudo. Ama muito. Só pode ser. Ele é o homem da vida dela. Não eu. Ele não quer muito. É duro ser abandonado. É duro ter que esquecer. Amor... Acham que os males da humanidade são curados por ele. Toda burrice, ganância e exploração será esquecida diante de um casal apaixonado numa cabana de felicidade. E se acabam os problemas. Outros dizem que o amor não existe. Desculpe. Vou acreditar que existe. É possível. Mergulhei. Não deu. Mas ele existe, eu vi. Esteve próximo, na palma da mão. E agora me sinto um pregador. O amor existe. É a janela para outro mundo. E é inesquecível. Transforma alguém em outro mais vivo.

Ah, outro dia ela me ligou, dizendo que estava arrependida. Eu dei parabéns pela gravidez e fui dormir.


Marcelo Rubens Paiva

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Para Luisa

Depois de tanta demora, nem sei mais o que escrever. É difícil, tenho que assumir. Nunca fui bom pra falar dos outros; agora, de você. É complicado, porque minha admiração pelas pessoas é totalmente subjetiva. Não admiro alguém porque ela é 1: legal, 2: divertida e 3: me entende. Não funciona desse jeito. Eu admiro pelo jeito de ter calma, pelo jeito de olhar e cuidar de alguém, e até pelo jeito que briga. Eu sou um apaixonado pelos detalhes, e são eles que me conquistam. O detalhe das pessoas que me conquista.

Mas não vim aqui falar de todas as pessoas, vim falar de você. Que prolixidade pra dizer. Tenho que pegar um dicionário pra achar as milhares de indefinições gramaticais que me engolem quando eu tento te definir. Vou tentar metaforizar.

Eu sou um pontinho tímido, um pontinho preto, melhor; eu vivo a minha vida conquistando as pessoas; apesar de tudo, eu sei conquistar. Não fui preto sempre. Já fui de muitas cores. Eu era branco quando nasci, mas fui ficando de várias cores; depende do que aconteceu comigo. Mas preto é uma cor que simplifica bem como eu sou. Escuro, com medo? Egoísta, não sei. Não gosto de falar disso, não gosto de dividir. Não adianta procurar em mim; só há escuridão.

Um dia eu encontrei outro pontinho, mas ele não era preto. Do mesmo jeito, a gente até que combinava. Ele me falava que ser um pontinho preto não era legal. Eu não entendia, já tinha passado por todas as cores e preto, indiscutivelmente, era a mais confortável. Mas não entendi o ponto de vista desse pontinho novo, desse pontinho que, apesar de conhecer muitas cores, continuava branco, pronto pra ser colorido.

Eu fiquei curioso. Comecei a conhecer esse pontinho. As coisas que ele falava eram totalmente absurdas pra mim. Não faziam sentido! Parecia um suicídio. Mas, enfim, eu dividia meu escuro ponto de vista. Que mal faria? Era até divertido conversar com alguém branco. Dava até uma nostalgia no fundo do meu corpo. Mas bem no fundo; não valia a pena querer voltar. Digamos que eram apenas reminiscências.

Um dia, depois de um tempo indefinido, descobri que ser preto não era legal. Foi quase uma obrigação mudar, mas mudei. Ser preto? Não tinha emoção; não dava. Tentei mudar de cor, tentei ser branco. Vivi minha vida durante um bom tempo tentando receber as cores que o mundo tinha a me oferecer, sentir os sabores coloridos e o cheiro das diversas flores. Era um verdadeiro arco-íris de sentidos. Ouvia a hortelã do ar, provava o amor de lábios, tocava em feridas antigas. Tudo de peito aberto, tudo com tinta neutra. Mas um dia, como se eu não esperasse, mas como se eu temesse, uma cor que eu não queria ver de novo apareceu. E tudo virou escuridão.

Você sabe bem do que eu estou falando.

O mausoléu de emoções, que um dia foram guardadas e enterradas, voltou. Eu sentia agonia, eu sentia ódio, eu sentia vontade de morrer, de matar. Eu não me sentia um
pontinho. Eu era... nada. Não me restava mais cores.

Devolva minhas cores! Eu as quero de volta. Eu poderia ser preto de novo, viver fechado, estranho, superficial. Mas desse jeito era pior do que deixar de ser um ponto, deixar de existir era melhor do que não ter cores. Eu queria mudar, podia ser preto.

Ah...! Mas eu nunca esqueceria o brilho, o cheiro, o gosto das coisas. O preto nunca mais voltou a ser suficiente, queria sentir as coisas; aquele velho gostinho da hortelã misturada com amor no final da tarde. Foi assim que eu aprendi a ser colorido, aprendi a mudar de cor.

Essas mudanças não acontecem de repente. São importantes e formam cada um dos pontinhos e o seu modo de viver.

Mas eu nunca vou me esquecer daquele pontinho que tentou me ensinar como a vida realmente podia ser boa, como os sabores que flutuavam e serpenteavam no ar estavam por aí justamente pra quem os queira sentir, cheirar, tocar. Vou lembrar pra sempre de quem tentou me mostrar todas essas coisas lindas e coloridas.

Foi aquele pontinho branco que sabia mesmo como viver, que falava umas coisas engraçadas e absurdas; que merecia viver pra sempre, só pela bondade dos olhos dele. Pela importância dada às pessoas. Nunca entendi essa viagem de incondicional.

Sem condições? Ah! Sempre tem uma condição. Pra você não, pontinho. Não existem condições pra você. Você aguenta. Porque você é único.

E porque eu te amo.


Artur Schütte

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Clima Natalino

É com grande felicidade que nos aproximamos no Natal! Que legal...
Eu nunca fui muito com com essas datas que só acontecem uma vez por ano, mas dessa vez eu estou me esforçando; coloquei uma foto com gorrinho do Papai Noel no orkut, ajudei a montar a árvore de natal e fiz até um post!
Ah, alguém me disse que se deseja Feliz Natal no dia 24, então...
É, nada; tchau.



Tá, tá... Feliz Natal,

Artur.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Sala

Aquela modesta sala se mostrava curiosa. As paredes amareladas pelo tempo transbordavam um aspecto um pouco sujo; mas também clássico, como naquelas fotografias e livros antigos, onde as bordas ficam amarelas. A sala não tinha espaço o suficiente para muita mobília, somente para muitas histórias. A estante cheia de livros deixava uma exposição aos cultos; os quadros estranhos espalhados pelas paredes deixavam curiosos os que admiravam fotografias. A mesinha de centro feita de ferro e vidro combinava com o tapete abaixo dela, complementando o sofá. Esse sofá, aliás, era bem estranho. Mas a sua estranheza era proporcional a quão confortável ele era. Um deleite. Nas janelas, as cortinas marrons deixavam alguns raios intrusos se apossarem da luminosidade do cômodo, que, por isso, tinha um aspecto escuro. O cheiro de café e cigarro da sala era sedutor e convidativo a nunca sair de lá. A sala não tinha televisão. Ao invés disso, um aparelho de som ocupava o espaço diante da mesa de centro, bem a sua frente, juntamente com garrafas de conhaque. O que se podia fazer na sala era ouvir música, fumar. Também podia-se deixar o silêncio preencher o espaço. Era uma sala charmosa, apesar de tudo. O dono tinha muito orgulho de lá poder ler seus diversos livros, vagarosamente, ouvindo música clássica, sem pressa. Era uma sala que tinha muito a oferecer. Mas ela não era perfeita. Há muito ela foi. Mas as circunstâncias não permitem a perfeição eterna. Faltava alguma coisa. Uma caixa de presentes encostada do lado do sofá, um cheiro de perfume a mais, um cigarro a mais, um copo a mais na mesa de centro. Faltava alguma coisa na sala, alguém.
Faltava ela.

Artur Schütte

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Laico

— Eu sou um pregador sem religião. Eu prego o amor.
[...]
— E você devia vê-lo.


Artur Schütte

domingo, 20 de dezembro de 2009

Mil Perdões

Desculpem-nos por não estarmos postando nada.
É que às vezes dá preguiça de passar as coisas pro papel.
Ou pro blog.

Com amor,
Artur Friedrich

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Quinta-na!

A menos ortodoxa sessão dessa semana traz uma grande novidade:

Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão -
se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo mesmo!
- Inclusive o amor e outras novidades.

- E até Quintana que vem, vindo cheio dessas tais novidades!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Tiger Woods


- Uma tacada de mestre.

Alívio

Coluna diz que as chances de Geyse posar nua são 'cada vez menores'

Segundo Mônica Bergamo, revista acha que perdeu o 'timing'

- Ufa, que alívio!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Seus Olhos Escuros

"Ele mencionava um maluco norueguês que afundou um navio como oferenda pela volta da amada. O problema é que o navio não era dele, e deu cadeia. Eu afundaria todos os navios nesta noite, Lavínia. Incendiaria o porto. Só pra ver o brilho das chamas refletindo nos seus olhos escuros."

Marçal Aquino. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ávida

A saudade de escrever
Ao Santo Ofício fez volver
Como pude me perder de mim diante da minha própria vista?
Assim sem entender,
Será mesmo que sumi sem deixar nenhuma pista?

Não me vejo com sou,
Nem mais mesmo me conheço.
E se conheço, só finjo que me esqueço.
Mas quando na caminhada me pergunto aonde estou,
Disfarço a pergunta, sou apenas o que restou.

E de repente a vida, ávida faceira,
De súbito me rende,
A flâmula do amor estende,
Reacende a já em brasas fogueira
E me faz levantar novamente tão nobre bandeira!

Pedro Dalosto

domingo, 6 de dezembro de 2009

Soneto da Loucura

A verdade passeia pelo coração
Desencorajada pelo cinza
Buscando coragem de uma nova tinta
Pincelada pelo chão

Com medo do escuro
Com vontade de se entregar
Não pense, também, só no mar!
Talvez não exista porto seguro...

Uma hora; vem!
Discreta pelo escuro
Discreta pelo medo

Do seu coração vejo o além:
Um amor mais puro,
A ser eternizado nesse soneto


Artur Friedrich

sábado, 5 de dezembro de 2009

3x1


- Segundo essa gordinha nem sempre três contra um(a) é covardia ..

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Esperança


- Ainda há esperança ..

Quinta-na!

Finalmente depois de tanto tempo para os mais assíduos leitores, Quinta-na! está de volta normalmente e semanalmente, e que venha Quintana!

O problema da solidão não consiste em saber como solucioná-la, mas saber como conservá-la!

- E até desde hoje ortodoxamente até o próximo quintana!

Quem Rir Vai Pro Inferno


- Eai, já tá esquentando?