sábado, 16 de maio de 2009

Olhar de Menina

Entrava ela em casa, batia a porta em um brusco gesto, os lábios com leve fricção mordiscava, tentava disfarçar o quase já eminente choro, porém os olhos marejados, a testa franzida e a lágrima solitária que escorria por seu rosto, tornaram dispensável todo o esforço da jovem.
A mãe, que no momento falava ao telefone, escorada no braço do sofá, pediu à amiga que lhe ligasse em alguns minutos, teria que resolver um problema. Correu depressa atrás da filha, não compreendia o porquê do desespero, na verdade estava tão surpresa e assustada que nem ao menos entendia seu mover, era guiada por seu instinto materno enquanto subia desajeitadamente os degraus da escada.
Sua pressa, no entanto, não foi suficiente; ao chegar ao meio do corredor, era tarde porém, ouviu o estrondo da porta do quarto da menina batendo no estrato. Determinada, ainda que soubesse que em vão batia na porta e pedia à menina que abrisse de imediato.
Refugiada no escuro do quarto a jovem não desejava ver mais ninguém, deitada na cama ainda arrumada e por cima das pelúcias, tentava esconder de todas as formas a face em seu travesseiro, enquanto roçando os pés tirava seus sapatos, ali sentia-se mais segura, estava longe do que a afligia, podia enfim derramar quantas lágrimas precisasse, ou ao menos tivesse.
Já cansada de tanto bater a mãe com o ouvido na porta ouvia os soluços de choro da filha com coração cada vez mais pesado, talvez não pelo choro, sentia-se incapaz diante da situação, mas lembrava-se dos tempos de sua juventude e com a sensibilidade propriamente materna deduziu o que havia acontecido, escorou-se de costas na porta e aos poucos foi deslizando até que estivesse sentada no chão, era o mais próximo que poderia estar da filha naquele difícil momento.
Com os olhos já secos, a menina ainda deitada estende o braço para trás, encontra o interruptor do abajur e o acende, com a escuridão abrandada, tira os brincos e os coloca sobre o criado mudo em meio aos ainda abertos frascos de maquiagem. Com o tempo, toma coragem, se levanta, acende agora a luz do quarto, tenta com os pulsos enxugar o que ainda restou das lágrimas, calmamente vai em direção ao espelho, vê apenas o vulto de sua imagem, antes que pudesse defini-la fecha os olhos, concentra-se, os abre, lá estava seu reflexo, o cabelo escovado, vestido amarrotado, o pingente de brilhantes brilhava refletindo a luz, a esta altura sua maquiagem já estava borrada, porém ainda assim estava radiante, linda! 
Mas o que a jovem viu no espelho não a agradou, não que estivesse mal apresentada, chorava pois ali estava - e no velho espelho de grossa moldura podia se ver, era real, visível - chorava ela pois, em sua cabeça de menina, não conseguia compreender como apenas dele não conseguira arrancar ao menos um olhar.    

Pedro Dalosto.                                                                                                           

2 comentários:

  1. pedro relatando como foi ficar apaixonado por mim e não ser correspondido.:P hahaha

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  2. Percebam que nessa Crônica Narrativa tratamos de um eu-lírico feminino.

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