terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Sala

Aquela modesta sala se mostrava curiosa. As paredes amareladas pelo tempo transbordavam um aspecto um pouco sujo; mas também clássico, como naquelas fotografias e livros antigos, onde as bordas ficam amarelas. A sala não tinha espaço o suficiente para muita mobília, somente para muitas histórias. A estante cheia de livros deixava uma exposição aos cultos; os quadros estranhos espalhados pelas paredes deixavam curiosos os que admiravam fotografias. A mesinha de centro feita de ferro e vidro combinava com o tapete abaixo dela, complementando o sofá. Esse sofá, aliás, era bem estranho. Mas a sua estranheza era proporcional a quão confortável ele era. Um deleite. Nas janelas, as cortinas marrons deixavam alguns raios intrusos se apossarem da luminosidade do cômodo, que, por isso, tinha um aspecto escuro. O cheiro de café e cigarro da sala era sedutor e convidativo a nunca sair de lá. A sala não tinha televisão. Ao invés disso, um aparelho de som ocupava o espaço diante da mesa de centro, bem a sua frente, juntamente com garrafas de conhaque. O que se podia fazer na sala era ouvir música, fumar. Também podia-se deixar o silêncio preencher o espaço. Era uma sala charmosa, apesar de tudo. O dono tinha muito orgulho de lá poder ler seus diversos livros, vagarosamente, ouvindo música clássica, sem pressa. Era uma sala que tinha muito a oferecer. Mas ela não era perfeita. Há muito ela foi. Mas as circunstâncias não permitem a perfeição eterna. Faltava alguma coisa. Uma caixa de presentes encostada do lado do sofá, um cheiro de perfume a mais, um cigarro a mais, um copo a mais na mesa de centro. Faltava alguma coisa na sala, alguém.
Faltava ela.

Artur Schütte

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