quarta-feira, 24 de março de 2010

Gosto Inerente por Passado

Foi um susto mútuo ao se encontrarem. Havia passado mais ou menos muito tempo desde o último encontro. Um desparo insantâneo de coração foi friamente calculado em dois corpos diferentes. Foi então que encontraram-se os olhares. O fluxo flutuante entre eles foi invisível e irresistível. Cheiros e sensações misturadas viajaram pelo ar, ziguezagueando pela úmida brisa do verão. O elo paradoxal entre eles consistia na fala e nos atos. Atos de entrega silenciosa inspiravam os poemas românticos, a fala inspirava as tragédias e conspirava os pesadelos. A frieza na fala revela nada mais do que as cicatrizes talvez abertas que permaneçam em ambos. Mas cada um não consegue sentir ou ver feridas senão suas próprias. You can't feel it anymore.
"Faz tempo que não te vejo." - começou ele.
"Né."
"E como estão as coisas?"
"Tudo normal. Você?"
"Normal."

Silêncio. Faltou o que dizer. O silêncio em si é muito mais coerente do que sua descrição. Dificilmente se fala do silêncio. Ok, fale das árvores, do vento, dos pássaros, da estranha velhinha que passou pela calçada. Mas não tente descrever o silêncio.

"Era mais fácil conversar antes..."
"É mesmo, apesar de tantos problemas"
"Que problemas" Ele se ofendeu. "Havia problemas?"
"Não, não...! Digo, algumas contradições, você nem deve ter percebido."
"É... talvez. Mas então foi culpa minha?"
"Não sei. Talvez, um mistério. Meio contraditório não é?"
"É... mas eu sei que você gosta de velhas contradições."

artur schütte

Um comentário:

  1. "gosta de velhas contradições"
    e se a contradição de um amor assim ainda existisse? seria nele ou seria nela?

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