segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tesouro

Em uma das crônicas de Luis Fernando Verissimo, há o seguinte trecho:

"[...] – Você ainda não se deu conta?
– Do quê?
– Meu querido. Elas não conhecem Vinicius de Moraes!
– E o que que...
– Esta é a primeira geração brasileira em muitos anos a passar pela puberdade sem ler Vinicius de Moraes. Intocada por Vinicius de Moraes. Virgem de Vinicius de Moraes.
– Sim, mas...
– Lembra antigamentem, quando a gente começava um verso do Vinicius para uma menininha? O que acontecia?
– Ela terminava.
– Isso. Sabia de cor. Claro que aquilo ajudava. Aproximava vocês. Você mostrava que era um cara sensível e ela se convencia de que, gostando dos mesmos versos, vocês eram feitos um para o outro. Nascia um amor eterno enquanto durasse, mesmo que fosse só uma noite.
– E hoje?
– Hoje você diz uma frase de Vinicius no ouvido de uma menininha e ela pensa que a frase é sua. É a mesma coisa, sem o Vinicius. Elimina-se o intermediário.
– Será?
– Há alguns anos eu estou passando frases do Vinicius de Moraes como se fossem minhas, improvisadas na hora. Poemas inteiros.
– Mas fazem efeito?
– O quê? Elas estão acostumadas com a conversa de garotos da idade delas. Uma espécie de português reduzido às interjeições. Qualquer vocabulário com mais de 17 palavras deixa elas extasiadas. As que não admiram a poesia, admiram a prolixidade.
– Eu não tinha pensado nisso. [...]"


Se conscientize! Cuidado com poemas e frases no ouvido. E leia Vinicius.

Um comentário: