Entrava ela em casa, batia a porta em um brusco gesto, os lábios com leve fricção mordiscava, tentava disfarçar o quase já eminente choro, porém os olhos marejados, a testa franzida e a lágrima solitária que escorria por seu rosto, tornaram dispensável todo o esforço da jovem.
A mãe, que no momento falava ao telefone, escorada no braço do sofá, pediu à amiga que lhe ligasse em alguns minutos, teria que resolver um problema. Correu depressa atrás da filha, não compreendia o porquê do desespero, na verdade estava tão surpresa e assustada que nem ao menos entendia seu mover, era guiada por seu instinto materno enquanto subia desajeitadamente os degraus da escada.
Sua pressa, no entanto, não foi suficiente; ao chegar ao meio do corredor, era tarde porém, ouviu o estrondo da porta do quarto da menina batendo no estrato. Determinada, ainda que soubesse que em vão batia na porta e pedia à menina que abrisse de imediato.
Refugiada no escuro do quarto a jovem não desejava ver mais ninguém, deitada na cama ainda arrumada e por cima das pelúcias, tentava esconder de todas as formas a face em seu travesseiro, enquanto roçando os pés tirava seus sapatos, ali sentia-se mais segura, estava longe do que a afligia, podia enfim derramar quantas lágrimas precisasse, ou ao menos tivesse.
Já cansada de tanto bater a mãe com o ouvido na porta ouvia os soluços de choro da filha com coração cada vez mais pesado, talvez não pelo choro, sentia-se incapaz diante da situação, mas lembrava-se dos tempos de sua juventude e com a sensibilidade propriamente materna deduziu o que havia acontecido, escorou-se de costas na porta e aos poucos foi deslizando até que estivesse sentada no chão, era o mais próximo que poderia estar da filha naquele difícil momento.
Com os olhos já secos, a menina ainda deitada estende o braço para trás, encontra o interruptor do abajur e o acende, com a escuridão abrandada, tira os brincos e os coloca sobre o criado mudo em meio aos ainda abertos frascos de maquiagem. Com o tempo, toma coragem, se levanta, acende agora a luz do quarto, tenta com os pulsos enxugar o que ainda restou das lágrimas, calmamente vai em direção ao espelho, vê apenas o vulto de sua imagem, antes que pudesse defini-la fecha os olhos, concentra-se, os abre, lá estava seu reflexo, o cabelo escovado, vestido amarrotado, o pingente de brilhantes brilhava refletindo a luz, a esta altura sua maquiagem já estava borrada, porém ainda assim estava radiante, linda!
Mas o que a jovem viu no espelho não a agradou, não que estivesse mal apresentada, chorava pois ali estava - e no velho espelho de grossa moldura podia se ver, era real, visível - chorava ela pois, em sua cabeça de menina, não conseguia compreender como apenas dele não conseguira arrancar ao menos um olhar.
Pedro Dalosto.
pedro relatando como foi ficar apaixonado por mim e não ser correspondido.:P hahaha
ResponderExcluirPercebam que nessa Crônica Narrativa tratamos de um eu-lírico feminino.
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