O Agente – E nós, como éramos crianças, acreditávamos.
O Agente – Um dia meu primo, que hoje é advogado, por descuido acabou caindo no fundo do poço.
A Voz – Meu Deus! E se machucou muito?
O Agente – Fisicamente, não.
O Agente – Mas, como estava apavorado e levou algum tempo para que o resgatassem, ele ficou muito desesperado.
O Agente – Por sorte e por azar, ainda havia um pouco de água no fundo do poço.
O Agente – Por sorte, isso amorteceu sua queda.
O Agente – Mas, ao mesmo tempo, com a luz que entrava no buraco e incidia na água, ele acabou vendo o seu próprio reflexo.
O Agente – Por fim, quando o içaram, eu corri e perguntei a ele: 'E então, como é o monstro?'.
O Agente – E a resposta foi: 'Ele é como nós. Todos somos monstros'."
Loureço Mutarelli, O Natimorto.
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